Entrevista com Caleb Followill para o G1 (Março 2021)
Via G1 | Por Braulio Lorentz
Parte da entrevista abaixo está em vídeo, clique AQUI para assistir.
G1 - Como é lançar um álbum sabendo que vocês não poderão sair em turnê agora?
Caleb Followill - Ah, é um pouco estranho, sabe? Essa é uma parte do processo com a qual a gente já estava bem acostumado. Então, eu sinto que quando estamos escrevendo, você já começa a visualizar como ela será ao vivo. E agora eu acho que a gente tem mais tempo para pensar nisso. É estranho, porque somos uma banda de turnê. Então, a gente mal pode esperar por sair por aí...
G1 - Você fez as músicas bem antes da pandemia e dos protestos contra o racismo nos EUA. A gente meio que viveu 10 anos em dois. Então, como é ver as letras ganhando novos significados por causa do atraso no lançamento?
Caleb Followill - É, eu penso muito que as letras estão ganhando outro significado, um significado bem mais profundo porque agora elas parecem uma reação ao que está acontecendo com o mundo. Eu fico muito empolgado que as letras podem agora impactar as pessoas de uma forma diferente do que se elas tivessem sido lançadas antes disso tudo.
G1 - Os críticos americanos, britânicos e do Brasil estão usando expressões como autoexame, autoanálise e autoconsciente para falar sobre o álbum. Você sentiu que estava fazendo isso?
Caleb Followill - Sim, é uma reflexão. Eu acho que reflexão é algo que com certeza tem a ver com esse álbum. Antes de a gente tocar qualquer música, teve um momento de reflexão na banda, porque é nosso oitavo álbum. Não tem tanta gente que pode dizer que teve a oportunidade de fazer um álbum, imagina então oito. A gente olhou para a nossa carreira, olhou para o que a gente fez e como a gente poderia ir além e manter os outros animados, conquistar novos fãs. Houve esse ato de nos olharmos no espelho e tentar entender o que a gente queria dizer. Eu senti como se minha vida saísse de mim por meio da música. Foi como expor essas pequenas veias aqui e ali, de um cara que vive aqui neste corpo.
G1 - Você escreveu 'Supermarket' dez anos atrás. Por que colocá-la agora no álbum?
Caleb Followill - É uma dessas músicas que quando eu escrevi saiu de dentro de mim assim que eu disse "vai". Então, eu tentei incluí-la em álbuns vários anos. Em provavelmente três ou quatro álbuns. Mas a versão que eu estava fazendo era só eu e a guitarra, era uma coisa um pouco mais cantor-compositor solo. Então, ela quase nunca combinou com as músicas que a gente estava fazendo naquelas eras. Mas aí algo aconteceu, algum tipo de mágica... eu acho que o Jared [Followill, baixista] estava tocando algo e eu falei: "quer saber, vou tirar a letra dessa música pelo menos e botá-la em uma melodia diferente". Quando eu fiz isso, funcionou. E claro que essa é uma letra que sobressai, sabe? "Eu vou a lugar nenhum se você tiver um tempo". São letras que parecem ser sobre essa era de agora, ou sei lá. Eu senti que essa era a hora que as pessoas gostariam de ouvir.
G1 - Falando de shows no Brasil, eu estive em alguns deles, então o que você lembra? Teve, por exemplo, aquela turnê com o Arcade Fire e Strokes... teve Lollapalooza. O que você pode me contar sobre esses shows brasileiros?
Caleb Followill - Os brasileiros gostam de se divertir. Eu acho que a gente adora se divertir também. Então, é... Eu tenho histórias que eu posso te contar e outras que não posso te contar... Vamos dizer que um dia eu acordei com duas tatuagens no meu peito. E isso aconteceu só porque eu estava me divertindo no Brasil. Essas tatuagens ainda estão aqui no meu peito.
G1 - Falando dos fãs brasileiros, eu já conversei com muitos deles e eles ficaram muito preocupados com a possibilidade de a banda se separar ali por 2010, 2011. Como vocês quatro estão agora e o que você pode dizer aos fãs sobre isso?
Caleb Followill - Sim. É eu acho que é uma dessas coisas, eu não sei porque as pessoas sempre... Eu acho que as pessoas estavam tão acostumadas a ver bandas formadas por família acabando. A gente não tem planos de se separar tão cedo. Eu acho que a gente está bem. Os Kings estão em boa forma agora. Essa é a nossa vida e não é algo do qual a gente vai fugir. A gente não cresceu com muito dinheiro ou muitas garantias. A gente não tinha muitos parentes fazendo coisas impressionantes. Então o fato de termos essa oportunidade, sabe, a gente não vai jogar isso fora. Então, é... eu acho que vai ter um nono álbum.
G1 - Vocês têm fãs bem diferentes no Brasil. Há senhoras mais velhas, como a minha mãe, que gostam das músicas mais românticas, das mais lentas, curtem a sua voz. E há os mais novos, os mais hipsters, que gostam do começo da banda... E tem aqueles... aquela massa, um monte de gente que curte o que é mais mainstream, as coisas de rádio. Como é tentar agradar todos esses tipos de fãs?
Caleb Followill - É algo que você sempre tem no fundo da sua mente, mas você tem que garantir que fique no fundo da sua mente e não na frente. A gente faz música para a gente mesmo, é uma forma de expressar. São momentos em que a gente reflete sobre nosso passado. Música é uma coisa engraçada, sabe? Eu acho que se a gente tivesse tipo um algoritmo e tentasse entender o que as pessoas querem da gente, acho que a música seria impactada negativamente por isso. A gente espera que as pessoas que gostam das coisas do nosso começo nos acompanhe nessa jornada. A gente ainda curte o que a gente faz. Mas eu não espero isso das pessoas, porque eu sinto algo parecido: muitas vezes, as músicas do começo de uma banda são o que eu amo, porque tem uma energia crua e uma inocência naquilo. Então, entendo tanta gente gostar desse aspecto nosso. E eu com certeza entendo porque sua mãe gosta de me ouvir cantar [risos].
Caleb Followill - A gente sai em turnê com bandas de antes em que o frontman ficava feliz em ser o frontman, tomar posições e abordar o que está acontecendo no mundo. Esse não sou eu. Por mais que eu queira ser forte o suficiente para ficar firme ali e falar, eu sempre fui mais um ouvinte do que um falador. Acho que tem essa pressão a mais, uma responsabilidade, se você preferir, em alguém com o microfone hoje. Tem tanta m... acontecendo que você tem que ir lá e falar. Então, o fato de eu pegar uma guitarra, arriscar uns acordes e cantar uma canção não me deixa... não quero que as pessoas pensem que isso significa que eu frequentei uma escola para aprender como ser um bom orador em público, abordando a política no mundo. Mas, sim, tem coisas pelas quais eu sou apaixonado e eu tento falar o tanto que consigo. Mas eu me senti que gosto mais de ouvir do que de falar hoje.
G1 - Obrigado Caleb, espero vê-lo no Brasil quando tudo isso acabar...
Caleb Followill - Sim, eu preciso de novas tatuagens. Tchau!
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